11 julho 2010

Cientistas questionam estudo genético sobre longevidade humana publicado na Science

Por Nicolau Ferreira

Um estudo que identificou quais as variações genéticas associadas a pessoas que conseguem alcançar os 100 anos ou mais de idade está a ser posto em causa pela comunidade científica. O artigo dos investigadores da Universidade de Boston foi publicado na Science no dia 2 de Julho e foi notícia em vários órgãos de comunicação, incluindo o PÚBLICO.




Os cientistas compararam geneticamente populações centenárias e populações de controlo. Analisaram vários milhares de variações genéticas e conseguiram identificar 150 locais genéticos chamados SNP (single nucleotide polymorphisms ou snips) relativos a 70 genes, onde residiam mutações pontuais que associaram à longevidade. Com estes locais genéticos, os autores testaram o modelo em centenários e obtiveram uma precisão de 77 por cento.



Alguns cientistas analisaram os procedimentos da experiência e descobriram falhas. A mais importante deve-se ao material utilizado para analisar os locais genéticos de cada indivíduo. Foram utilizados dois chips de ADN para este efeito, que apesar de serem todos da empresa Illumina, têm diferenças.



O chip Illumina 610, que foi utilizado em 108 de 1055 centenários, é bem conhecido por Kári Stefánsson, da empresa Decode Genetics, responsável pelos estudos genéticos feitos na Islândia. Segundo o investigador, dois SNPs que os cientistas consideraram estar associados à idade são mal interpretados por este chip. Basta o genoma de dez por cento dos indivíduos ter sido analisado utilizando este material para os resultados ficarem deturpados.



O cientista diz estar “convencido que a associação feita entre longevidade excepcional é devido a problemas de genotipagem”, refere citado na Newsweek, que escreveu um artigo extenso sobre o “falso” estudo.



Voltar ao laboratório



Outros investigadores referem desde logo que a amostra de indivíduos estudados é demasiado pequena, comparativamente com os estudos de genoma de grande associação, que se fazem para as doenças como o diabetes ou a pressão arterial. Nestas doenças comuns nunca se verificou um padrão de associação tão forte como no estudo de longevidade.

Paola Sebastiani e Thomas Pearl, os principais autores do trabalho, defendem-se desta critica referindo que a longevidade não é um extremo do espectro na variação genética que define a idade, mas sim uma condição rara por si só. Estas condições raras, dizem, podem ser originadas por genes fortes. Já a questão dos chips é uma novidade para os autores. “Se soubessemos do problema, teríamos levado em conta”, disse Pearls numa entrevista à Science. Os autores vão voltar ao laboratório e prometem respostas nas próximas semanas. Mas os críticos não percebem como é que os investigadores não fizeram um terceiro teste com um único chip.



A comunidade científica tem mais uma pergunta: Como é que uma revista de cotação tão alta como a Science não reviu melhor este estudo?

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