29 junho 2010

Saúde: 20 passos para as cirurgias


Os hospitais públicos vão adoptar um sistema que visa a verificação de uma lista de 20 procedimentos registados nas cirurgias para «maximizar a segurança do doente», afirmou esta terça-feira um responsável do Departamento da Qualidade da Direção-Geral da Saúde, escreve a Lusa.

O chefe de Divisão da Qualidade Clínica e Organizacional, Miguel Soares de Oliveira, disse que a lista é aplicada aos profissionais presentes numa cirurgia - cirurgiões, anestesistas e enfermeiros - que vão verificar se foram seguidos todos os passos na operação.

Miguel Soares de Oliveira falava aos jornalistas à margem do seminário que decorre, esta terça-feira, em Lisboa para marcar o 1.º Aniversário da Estratégia Nacional para a Qualidade na Saúde onde são apresentadas as medidas em curso.

A norma referente ao registo de procedimento cirúrgico, que segue orientações da Organização Mundial de Saúde, deverá ser adoptada em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde e naqueles que têm serviços convencionados, a partir de 1 de Julho.

Entre os pontos da circular está: a verificação da parte do corpo do doente a operar, a verificação de que foi administrado o antibiótico que reduz o risco de infecção, avaliação do risco de hemorragia ou a contagem de material e compressas.

«Alguns hospitais já iniciaram o processo» que mais não faz que «estabelecer metas e definir padrões nacionais» para procedimentos que os profissionais já conhecem e praticam, referiu Miguel Soares de Oliveira, salientando que «não há grande mudança de paradigma».

Emergência médica intra-hospitalar

Os hospitais públicos também poderão passar a ter equipas de emergência médica intra-hospitalar para responder ao agravamento súbito do estado dos doentes internados, disse Miguel Soares de Oliveira.

O chefe de Divisão da Qualidade Clínica e Organizacional, referiu que uma das medidas em desenvolvimento nesta área refere-se à criação de equipas «similares às que existem no INEM para a rua», mas para actuarem dentro dos hospitais.

Assim, «o doente internado não corre o risco de ter um atendimento menos bom se tiver um agravamento do seu estado», explicou.

Para enfrentar estas situações, os hospitais devem ter material de reanimação, fármacos de emergência, mas também profissionais de saúde. «Em caso de agudização do seu estado de saúde, o doente tem de ter resposta adequada», frisou a mesma fonte

tvi24

1 comentário:

drpark disse...

Num hospital de Lisboa, um bebé de dois meses foi operado para lhe ser extraído o rim esquerdo. Na cirurgia, retiraram-lhe o direito. Para evitar erros destes, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) anunciou ontem que a partir de amanhã todos os hospitais públicos terão de cumprir uma lista de procedimentos no bloco operatório. Tarefas simples como confirmar que foi dado o antibiótico ao doente ou que não ficou nenhum instrumento cirúrgico dentro do corpo.
A checklist elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) começou por ser aplicada no Hospital de Santo António, no Porto, e no de Santa Marta, em Lisboa. Há um mês, as regras foram alargadas aos cerca de 20 blocos operatórios do Centro Hospitalar de Lisboa Central, ou seja, no Hospital da Estefânia, São José e Capuchos. Os bons resultados das práticas cirúrgicas levaram a DGS a estender agora estas regras que podem salvar vidas a todos as salas de operação do País.
No estrangeiro, a aplicação destes procedimentos de segurança antes da anestesia, no início da cirurgia e depois de esta estar concluída, reduziram para metade as complicações associadas à operação. Problemas como infecções ou outros mais graves que podem provocar a morte.
Em Portugal, ainda não há estatísticas que permitam medir as mais-valias para os doentes. Mas os resultados estão a ser bastante positivos, assegurou ao DN Mercedes Bilbao, coordenadora dos blocos operatórios do Centro Hospitalar de Lisboa Central. A enfermeira que é também presidente da Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portuguesas diz que a "aplicação de boas práticas anestésicas, cirúrgicas e de enfermagem traz muito mais segurança ao doente. Às vezes são cinco minutos que salvam vidas".
Na prática, antes da anestesia, a equipa do bloco verifica a identificação e as condições do doente e confere, entre outras coisas, se este tem alergias. Antes da incisão, verifica-se que a anestesia foi dada e que os elementos da equipa estão concentrados e sabem o que vão fazer. São revistos procedimentos para o caso de algo correr mal, como uma grande perda de sangue, e disponibilizadas reservas.
No final, antes de a equipa dispersar a atenção, conferem-se informações, como se todo os instrumentos usados - compressas, agulhas ou fios - foram retirados e não ficaram dentro do doente.
Manuel Valente, enfermeiro do Hospital de Santo António, salienta também os bons resultados e a adesão dos profissionais a esta mudança de comportamentos. "O resultado mais pragmático tem a ver com a administração de antibióticos na altura certa, o que minimiza o risco de infecção", explicou ao DN. Antes da aplicação da checklist, só 50% dos doentes recebiam o antibiótico na altura certa, agora a taxa subiu para os 80%, embora não seja possível prever o número de infecções evitadas por isso. "Aqui a taxa de infecção está nos 3%."
Outro progresso está no espírito de equipa e concentração dos profissionais. "O facto de alguém perguntar em voz alta o nome do doente e verificar se as tarefas foram cumpridas ajuda a sintonizar a equipa e fá-la partilhar as dúvidas e o que vão fazendo", explica Manuel Valente.
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1606540